segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Câmbio, competitividade e desindustrialização: A taxa de juros Selic como variável estratégica

O recuo progressivo das expectativas de inflação tem sido recebido com alívio em todo o país, especialmente pelas autoridades monetárias.Apesar do superávit primário de 2,5 % do PIB para pagar juros, o déficit nominal do setor público foi da ordem de 2,6% do PIB, mesmo levando-se em conta a queda da taxa selic dos 12,5% aa em agosto/2011 para os atuais 10,5%aa.

Se com tudo isto, continua havendo queda nas expectativas de inflação é fácil perceber que os fatores dominantes de deflação são de origem externa, pois suplantam o efeito doméstico de maior pressão sobre os preços, que caracterizam a presença de déficit nominal sistemático como enfrentamos.

A valorização enfrentada pelo dólar neste começo de 2012 tem sido um componente importante na moderação dos preços, seja diretamente ou indiretamente via a facilitação da oferta das importações. A fuga do Euro e a substituição pelo dólar pode se acentuar com a retomada da economia norte-americana. Esse antigo privilegio do dólar como moeda de livre conversibilidade parece funcionar como refúgio preferencial diante do colapso do Euro. Tudo isto parece indicar uma nova oportunidade para os EUA promoverem uma nova emissão de grande magnitude de sua moeda.

Nossa percepção da economia mundial nos mostra que dificilmente os EUA irão assistir de braços cruzados a valorização de sua moeda, com todos os problemas que isto traria, especialmente no comércio de mercadorias e serviços.

Isto posto, a hipótese de um novo Tsunami monetário, a ser posto em marcha pelo EUA, é cada vez menos remota. Mais sério ainda é o fato de que se este evento nos apanhar praticando as atuais taxas de juros primárias, seremos tragados por um mar de dólares que nos obrigará a assistir a uma valorização do real ainda maior do que os atuais R$1,70.

Some-se a tudo  isto o baixo resultado do crescimento do PIB registrado em 2011, inferior aos 3,0% e muito aquém das expectativas mais pessimistas e teremos um quadro de claro consenso em torno da redução das taxas de juros no Brasil.

O recente episódio de flexibilização ideológica do governo ao privatizar os aeroportos é um indicador de que nem mesmo o conservadorismo tradicional de nossa política monetária poderá ficar indiferente ao ajuste das taxas primárias de juros.

Objetivamente falando, podemos mencionar o consenso formado em torno do inadequado nível de taxas de juros que, de um lado, continuam atraindo a liquidez internacional, valorizam nossa taxa de câmbio e tiram da indústria a competitividade e as oportunidades de concorrer no plano internacional.


Postado por Mario Leal

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A velocidade de queda dos juros primários no Brasil é a adequada?

O deslocamento do estado das artes em matéria financeira desde a crise financeira em 2008 para um nível de taxas de juros muito baixo, nunca antes visto, é notável. Nos EUA, na Europa e no Japão o traço comum tem sido o baixo nível de atividade acompanhado de taxas de juros muito baixas. Os emergentes, por sua vez, já enfrentam importantes surtos inflacionários, pois são as atuais locomotivas de crescimento planetário.

Os 6,5% de variação do IPCA registrado no Brasil em 2011 foram recebidos com alívio pelo governo brasileiro, já que ainda durante o ano foram registrados acumulados em 12 meses do IPCA superiores a 7,0%. A valorização do Dólar neste começo de ano e a consequente valorização do Real se, por um lado, é sinal alvissareiro de menores pressões inflacionárias, por outro já foi responsável por um déficit comercial mensal no mês de janeiro absolutamente inédito, que preocupa.

A prosseguir o atual ritmo de deterioração do ambiente externo na Europa, mesmo uma recuperação moderada dos níveis de atividade nos EUA, o carry trade em direção ao Brasil deve continuar. Diante disto, o Banco Central tende a promover reduções adicionais das taxas primárias de juros, limitadas naturalmente ao efeito líquido sobre a inflação decorrente da combinação resultante da deflação de origem externa e das pressões inflacionárias domésticas.

O consenso de que as taxas de juros primárias no Brasil são altas, e por isso devem cair mais, já está formado. O que não sabemos, e tampouco as autoridades monetárias, é a velocidade a imprimir. Tal qual em dias de chuva, reduzir a velocidade é natural, mas o que é mais difícil na gestão é acertar o timing da redução.

Se for mais rápido do que o adequado, a inflação de origem doméstica pode suplantar o componente de deflação de origem externa e interromper o ajuste bem sucedido até aqui, em direção aos 4,5% da meta inflacionária em 2012.